quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Pássaro da Alma


Lembras-te de um pássaro azul que fugiu da gaiola numa tarde de Julho, ao som de latidos dos cães e pressentimentos estranhos, e cuja fuga me provocou arrepios apesar do calor que se fazia sentir?
Disseste-me que voltaria se o chamasse. Fi-lo. Assobiei até, o habitual assobio de bons dias.
Ele não voltou.
Reencarnou mais tarde no meu desejo de liberdade. Em tudo o que fiz para que me crescessem as asas e recomeçasse a aprender a voar. E aí ele voou, voou livre, feliz sentindo a mudança dos ventos com um bater de asas seguro e firme, um voo azul no azul do céu mesmo ao percorrer caminhos desconhecidos e arriscados! ... Isto até à tua partida.
Agora bate as asas desorientado e fortemente tentando seguir a rota definida. O cansaço sentido em excesso enfraquece-o e o medo do voo solitário fragiliza-o ao ponto de parar em lugares ermos, até sentir frio o seu frágil corpo.
O sonho de voar até ao mar azul, e o vislumbre de flutes mar adentro vai-se esvaindo,fluindo em lágrimas turvas de dor...
Um dia, seja ele qual for, reencontrar-te-à e a sua alma levar-nos-à a abrir as gavetas da existência, uma a uma, libertando-nos dos obstáculos que nos limitaram nesta vida.
Imagino-nos libertos de plumagens imaginárias ou de calças rotas e gastas, olhando o azul do mar, sentindo a brisa, bebendo flutes de paz, enquanto suaves e frescas ondas banham os nossos pés descalços.
Até lá (sendo ele um dia, qualquer um...) luto. Por ser feliz, a teu pedido! Mas é um desafio enorme, e eu sinto-me tão só e tão frágil!
Guia-me na tua luz! Mas dá-me um sinal se houver nuvens ou a lua estiver oculta...

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