quarta-feira, 23 de julho de 2014

A carta que nunca te enviei

07-04-2010

Tu viste os meus olhos tristes
e encheste-os de luz.
Agora partiste, levando-a contigo.

Resta-me a dor
a saudade
a procura d'outro
porto de abrigo.

Passaram dois meses
e a dor é de ontem.
Apaguei-me contigo.
Tentei resistir.
Adiei o meu luto
em luta comigo.
Foi um engano. Um castigo.
Agora descubro que sem ti
não sou.
A luz que levaste
parte de mim apagou.

Olho a lua, tua e minha
companheira
tentando agarrar o que resta
mas falta
o teu riso
a tua presença.

Foste alguém que
me ouviu
me compreendeu
e me recordou das coisas simples
de que era composta
a minha vida;
Foste entrando discretamente
nas minhas muralhas.
Defini-me
Afirmei-me
em recordações tuas
que eram minhas.
Fui eu de novo
sonhando contigo,
tornando em palavras
o que nunca havia sido dito.
Renasci metaforicamente
nas asas de um pássaro azul
que me fugiu da gaiola
e ao qual eu "tomei" a alma como minha,
na procura de mim própria.

Voei livre e feliz
na tua companhia,
alimentando-me
dos teus sonhos,
da magia
das tuas palavras,
saciando-me,
bebendo
a tua escrita.

Quebraste
todas as
minhas barreiras,
abrindo-me portas desconhecidas
de ti,
embriagaste-me
com os teus devaneios e
viciaste-me
nos teus
ébrios delírios!


Roubaste-me
um beijo
desejado
proibido.
E
tornaste-te
parte de mim.

Assim, sem quereres
mas querendo
foste dono
do meu corpo
e do meu ser,
Senhor
do meu sorriso
e da minha luz,
apenas existindo.
Mesmo contrariando
as sensações
atento a convenções.


O tempo passa, e surge o medo
de esquecer pormenores
do teu rosto,
da tua voz,
dos teus gestos.

Recordo a marca na tua face
esquerda
o lado do teu
coração cansado.
Recordo
o teu sorriso fechado
ocultando com os teus lábios suaves
algo imperceptível aos outros
mas não a ti.
Recordo
os teus gestos lentos
controlados,
agitação denunciada
no coçar suave
do lado esquerdo do rosto
acariciando na mandíbula
leves marcas do tempo.

Vendendo sonhos
chamavas-me ao real
com a mestria de um sábio,
com palavras de luz e paz
que meio mundo não percebia.

Um dia, sendo ele qualquer um
haveremos de reencontrar-nos
e continuarmos
juntos
a nossa,
antes só tua,
Viagem
pela Rosa dos Ventos!

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